Desde o início de dezembro, cidades por todo o país já enfrentam os problemas provocados pelas grandes tempestades, comuns nesta época do ano. A impermeabilização do solo, fruto do processo de urbanização, o crescimento acelerado dos grandes centros e fenômenos responsáveis por mudanças climáticas são alguns dos elementos que compõem um quadro preocupante para os condutores de veículos. Mais importante do que a proteção do patrimônio, algumas medidas e cuidados simples podem ser determinantes para preservar a integridade do condutor do veículo e de a de seus passageiros. Evidentemente, a primeira providência a ser tomada em momentos de grandes chuvas é procurar locais mais elevados e evitar a todo custo passar por vias alagadas. Caso não exista opção, seguem abaixo indicações sobre como proceder, na lista de recomendações criada pelo CESVI Brasil (Centro de Experimentação e Segurança Viária).
• Caso o motor morra durante a travessia, nunca tente dar a partida. Mantenha o carro desligado e remova veículo para uma oficina, a fim de evitar danos provocados pelo chamado calço hidráulico*.
• Observe a altura da água no trecho alagado. A maioria das montadoras estabelece que a altura máxima para essas travessias não deve exceder o centro da roda.
• Não é prudente, durante a travessia do trecho alagado, dirigir em baixa velocidade. O recomendável é manter a rotação constante do motor em torno de 2.500 rotações por minuto. Esse cuidado diminui o risco de admissão de água no bloco e a contaminação de componentes eletroeletrônicos.
• No caso de veículos equipados com transmissão automática, a troca de marchas deve ser feita manualmente. Dessa forma, o veículo não desenvolve tanta velocidade, sendo possível imprimir uma rotação maior ao motor.
• Alguns veículos automáticos oferecem como opcional o ajuste da tração. Embora sua função seja a de conferir maior segurança durante trechos de baixa aderência, como neve ou lama, também deve ser utilizado durante alagamentos, pois beneficia o controle da velocidade do veículo e da rotação do motor.
• Mantenha a calma nos casos em que, durante a travessia, sejam constatados sintomas como o aumento de esforço ao esterçar, variação na luminosidade do painel de instrumentos, acionamento de alertas sonoros, flutuação dos ponteiros, acionamento de luzes de anomalia da injeção eletrônica, bateria e ABS, aumento do esforço ao acionar os freios e interrupção do funcionamento da tração 4×4 (veículos diesel). Provavelmente esse quadro é causado pela perda de aderência entre a correia auxiliar e as respectivas polias da bomba da direção hidráulica, alternador e bomba de vácuo (veículo diesel). Na maioria das vezes, esse fato é passageiro e não impede a dirigibilidade. Apenas reforce a cautela e mantenha o menor número possível de equipamentos ligados.
• É recomendado desligar o ar-condicionado, reduzindo o risco de calço hidráulico. Essa prática impede que alguns componentes joguem água na tomada de ar do motor. Veículos rebaixados e turbinados, na maioria das vezes, apresentam mais riscos de sofrer calço hidráulico. Se o veículo estiver nessas condições, redobre a atenção aos procedimentos sugeridos.
• Também é recomendado, preventivamente, fazer um check-up, corrigindo, por exemplo, possíveis alterações do sistema de injeção eletrônica, muitas vezes simples e imperceptíveis, como maus contatos, mas que podem gerar grandes transtornos.
• Depois da travessia de um trecho alagado, pode haver a contaminação do óleo da transmissão ou do eixo diferencial, no caso de veículos com tração traseira ou mesmo 4×4, o que determina a redução da vida útil dos componentes desses conjuntos, além de riscos de falha na embreagem, suspensão e freios. Para reduzir essas possibilidades, é recomendável levar o veículo a uma oficina e solicitar a avaliação dos itens citados.
• Em caso de travessias consecutivas de trechos alagados, recomenda-se uma limpeza do sistema de ventilação, pois estará sujeito a contaminação por fungos, microorganismos e bactérias, demandando limpeza de todo o sistema para a utilização segura.
No site do CESVI BRASIL é possível consultar um comparativo de modelos de veículos com as informações de todos os índices desenvolvidos pelas pesquisas do centro – Índice de Segurança; Índice de Visibilidade; Índice de Danos de Enchente; e CAR Group (compara veículos de uma mesma categoria quanto à facilidade e o custo de seu reparo). Para consultar, acesse: http://www.cesvibrasil.com.br/indices/comparativo.aspx
(*) O chamado calço hidráulico provoca danos em motores de automóveis após a passagem por locais alagados. O problema ocorre quando um líquido preenche as câmaras de combustão, formando uma massa que não pode ser comprimida, ao contrário da “névoa” de ar e combustível fornecida pelos bicos injetores.
Ao acionar a partida, os pistões encontram grande resistência e o motor tem avariados componentes como o pistão, a biela ou até mesmo o virabrequim. Uma biela quebrada também pode resultar na trinca no bloco. O prejuízo, nesse caso, fica na casa dos milhares de reais.